06 agosto 2012

Tempos difíceis de Charles Dickens

Com a maioria das minhas descobertas, Tempos Difíceis foi uma leitura quase acidental. Em mente tinha o consumo de obras de Virgina Woolf ou de Oscar Wilde, mas aquando da estada na biblioteca decidi, finalmente, experimentar este tão conhecido autor.
Quanto a Tempos Difíceis, não há muito a desgostar e pouco a amar. Mostra-se, assim, morna e, por vezes, confusa. Uma narração dispersa e, expressamente, masculina, já que lhe falta delicadeza de criação e convicção nos enredos românticos, que caem por terra. Sumamente, este não é um romance romântico!
Talvez por ter como tema uma edução rígida e restrita aos factos, o autor esquece os atrativos do coração e limita-se, tal como Mr. Gradgrind, às explorações da razão.
É um retrato bem talhado e sarcástico de uma sociedade, da educação e dos seus efeitos no futuro. Com efeito, ressoa a naturalismo e, de certa forma, desculpa os erros das personagens, que em nada – ou quase nada – sucedem.DSC03445
Uma obra triste, que termina da mesma forma: sem alegria! Todavia é completamente recomendável, não só pelo grande nome que a produz, como pela capacidade esplêndida de a tornar consumível: primeiro, estranha, mas depois entranha de tal forma que em apenas 24h se acabam as páginas…

2 comentários:

Salomão Sousa disse...

Isa, não sei porque um romance de ideias e não de coração, não possa ser uma leitura para mulheres. o romanesco em si mesmo já traz os conflitos capazes de desafiar a mente. O romântico nem sempre traz o conflito essencial para compreensão do tempo e seus desdobramentos. Dickens existe para isso mesmo: destruir a estupidez que o seu tempo iria irradiar para o futuro. Livro essencial para homens e mulheres!

IP disse...

Olá, Salomão

Concordo, totalmente. Quando o caracterizei como "masculino", penso que me estava a referir ao estilo (e não ao conteúdo) do autor.
É um romance seco, mas extremamente interessante. De facto, não pode deixar de suscitar em todos (homens E mulheres) a reflexão necessária à construção [fundamentada] do modo como percepcionamos a literatura e o mundo.

Penso que tem muita razão, quando diz que é um livro essencial. Mais, é daquelas leituras que não nos largam. Há dias (três anos após este "crítica"), andava eu numa aula de textualidades e esta obra surgiu-me como caminho de exploração e argumentação.

Obrigada pela visita e pelo comentário.
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