Não se trata, simplesmente, de mais um retrato anti-católico das histórias guardadas pelas muralhas dos conventos. É certo que o papa não o verá - como comentado pelo próprio representante do Vaticano - mas há em Philomena um je ne sais quois, profundamente, devoto aos valores da Igreja que talvez tenha ficado mal compreendido.
A Irlanda dos anos 50 albergava dezenas de jovens que cediam aos impulsos da primeira paixão e caiam no pecado de amar. Entregues a uma gravidez não planeada e a um reflexo rígido do catolicismo, muitas morrem durante o parto, enquanto as sobreviventes vêm os filhos vendidos por mil libras a casais americanos.
Esta é a história de Philomena, que, 50 anos depois, procura o seu rebento com o auxílio de Martin Sixsmith, um jornalista demitido pela BBC e em busca de uma nova ocupação.
Há, desde já, um contraste engraçado entre estas duas personagens e é nesta magnífica dessemelhança que jaz a minha suspeita.
Martin é um repórter crítico, que despreza, totalmente, o catolicismo. Philomena uma idosa amável, entusiasmada com as histórias mais comuns e, apesar de tudo, dedicada aos valores retrógrados da Igreja que lhe roubou o filho.
Há, portanto, um jogo constante entre o mundano e o espiritual numa viagem pelo passado e pelas vidas entrecortadas pelos anos.
À primeira vista - ou, pelo menos, na primeira hora - parece, assumidamente, uma critica feroz à vida da Igreja Romana, mas, nos últimos momentos, a dor de um filho perdido duas vezes e reencontrado noutro reino é atenuada pelo perdão e que lição é mais católica do que esta?
Enredo à parte, a banda sonora - produção de Alexandre Desplat - descreve movimentos já de si sublimes que enfatizam, perfeitamente, o espírito de Philomena e a sua doçura maternal.
Estranhamente, um filme feliz sobre as histórias a que o mundo tem direito.
Um olhar refrescante sobre o pecado, o perdão e a ação inexorável do tempo.
Um nomeado da Academia imperdível.
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Inspirado na vida,
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